Dia (para recordarmos a Mestria) das Crianças



Quando eu era criança as minhas brincadeiras preferidas eram três: 
1. Ser mãe e cuidar do meu bebé, pô-lo debaixo da camisola e simular o nascimento, amamentá-lo, trocar-lhe as fraldas e dar-lhe banho, dar-lhe colo e muitos beijinhos (houve até uma altura em que duvidava se os beijinhos eram limitados e se ia acabar com a minha dose logo em criança já que não havia testa de boneco que me escapasse a pelo menos 30 beijinhos de uma vez).
2. Com as Barbies construía a sua família (sempre numerosa) e punha a Barbie a namorar com o Ken, a Barbie a tomar conta dos seus filhos, a levá-los a passear ao parque, andar de baloiço, deitá-los e contar-lhes histórias, dar-lhes colo e abraços.
3. Ser professora. Colocava todos os meus bonecos sentados nos degraus das escadas e falava para eles. Explicava-lhes como as coisas aconteciam, como se faziam contas, como se lia uma história, como se desenhavam as letras e por aí fora.

Quando pensava no que queria ser quando fosse grande, a resposta, mesmo que variasse entre ser educadora de infância e ser pediatra, tinha lá sempre o mesmo – os bebés e as crianças.
Enquanto crescia e acompanhava a minha irmã, que na altura trabalha em infantários e creches, fui percebendo que educadora de infância não seria exactamente o que queria. Como podia estar um dia inteiro com 15 crianças ao mesmo tempo? E como podia dar colo a todos? E como podia dar essa atenção individualizada que me dava tanto prazer? Como podia ser pedagoga e não só "tomadora de conta" de crianças? Como podia educá-las com valores, com princípios? Provavelmente seria mais stressante do que apaixonante e essa ideia foi ficando de lado.

Em relação a pediatria, percebi também a enorme responsabilidade que seria e o contacto com as crianças é pontual, não há uma relação estabelecida, não se acompanha o crescimento da forma que gostaria e por isso, também essa ideia foi ficando de lado, deixando de fazer tanto sentido.
Então cresci efectivamente e quando chegou a altura de escolher a minha profissão ponderei Enfermagem para fazer depois especialização em Obstetrícia e Pediatria e poder estar mais perto dos bebés, Fisioterapia para me focar também nos bebés e acabei por entrar em Cardiopneumologia. (Boing. Nada a ver!) Eu gostava de cuidar de pessoas e por isso, Cardiopneumologia estava bem. (Assim, tal e qual com esta leveza e motivação J) No final da Licenciatura fiz um estágio voluntário em Cardiologia Pediátrica e Ecocardiogramas Fetais e consegui assim vislumbrar uma forma de integrar os conhecimentos e competências adquiridos e para onde o meu coração sempre me levava. :)

Quando descobri as Doulas e a sua proximidade com a Gravidez e com os Bebés, o meu coração realmente disparou! E lembro-me perfeitamente do momento em que me inscrevi no Curso de Doulas que liguei ao G. a chorar a dizer que ia fazer. Que não sabia como, se ia conseguir pagar ou o que fosse, mas que tinha mesmo que fazer. (Até me arrepio quando me lembro ;))

Então hoje, no dia da Criança, eu escrevo este texto porque quero assinalar (de mim para mim) a importância do trabalho que faço. Eu hoje acompanho mulheres e casais antes de engravidarem e durante a gravidez e isso dá-me a grande oportunidade de educar estes pais para o vínculo com o seu filho. Este contacto dá-me a oportunidade de ser a voz desse bebé. Dá-me a oportunidade de mostrar aos pais que o respeito pelo seu filho, o seu amor e educação começam ali mesmo, na gravidez.
Quando em adolescente fiz voluntariado em casas de acolhimento temporário para crianças e ia com o propósito de dar colo, de brincar, de ser aquele corpo – aqueles braços, aqueles olhos, aquele sorriso – que traz alegria, atenção, vínculo àquela criança que naquele momento da sua vida não o tem, eu vinha de lá muitas vezes a pensar: “E então?” “Tu sais de lá e é tudo igual.” Porque eu não tinha contacto com os pais daquelas crianças. Com aquelas pessoas que por variadíssimas razões colocaram os seus filhos naquela situação.
Assim, hoje, quando eu acompanho estes casais no momento mais precoce de ligação afectiva a estes filhos, e em que muitas vezes estão disponíveis para trabalharem as suas próprias feridas emocionais para não as passar aos outros, eu tenho oportunidade de os educar, de partilhar com eles o que eu sei e sinto e acredito. De partilhar com eles que os seus bebés já dentro da barriga e mal nascem têm sentimentos, emoções e necessidades.
E eu posso ser esta lanterna que traz à consciência de muitos pais as necessidades dos seus filhos, desde logo! Educando sobre Parentalidade Positiva e Consciente!

Então, um bocadinho sem eu saber como, hoje em dia é aqui que eu estou. Com este trabalho missionário em mãos e no coração! Ser doula (e ser mãe) é o meu propósito de vida. E estar alinhada com ele traz-me tanta mas tanta felicidade!

Hoje, neste dia da criança, eu honro todos aqueles que têm como missão nesta vida, trabalhar com e para crianças, nutri-las, empoderá-las, cuidá-las, ensiná-las, orientá-las, ajudá-las e curá-las.

Lembremo-nos da sua Mestria, do seu encantamento, da sua simplicidade, da sua energia pura, do seu amor. Se olharmos para as crianças com estes olhos, tanta coisa do nosso dia a dia muda. Experimenta ;)

Sou muito, muito grata por este chamamento em mim que cada dia se torna mais claro e mais materializável. E sou muito grata aos meus sobrinhos que vierem encher o meu coração com tanto amor e sabedoria! 

[fotografia de Maria Moleiro]

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